Acontece que hj eu me descobri portadora de uma condição física considerada um problema pela sociedade contemporânea: eu não tenho peitão. É claro que sempre convivi muito bem com essa condição, que na verdade nunca foi para mim um empecilho. Até o dia de hoje. Quando resolvi comprar um sutiã.
Eu entro nas lojas, uma após a outra. "O que deseja?", pergunta gentilmente a vendedora. Pois eu lhe digo: "Estou procurando um sutiã sem bojo". Ela estremece. Entre a miríade de modelos pendurados por toda a parede, não há sutiãs sem bojo. Ao menos não para a minha idade. Tento ajudar: "Eu queria um modelo bem simples". Vejo a angústia em seus olhos. Ali não havia lugar para a simplicidade; apenas para o glamour e a lascívia, com pedras, rendas e penduricalhos.
Poderiam me perguntar porque não gosto de bojos. Ora, é evidente. O pouco que tenho dispensa o suporte de um arco de metal ou a proteção de uma camada de espuma, que aliás me mata de calor. Os únicos sutiãs com bojo que arrisquei um dia comprar estão no ostracismo da minha gaveta. Não critico quem opta pelo bojo, que pelo visto faz muita gente feliz. Mas eu só queria mesmo era um pedaço confortável de pano para poder me adequar às convenções sociais e não escandalizar o mundo aí fora.
Mundo este que está silenciosamente voltando ao espartilho, entre bojos matadores e colants do Dr. Ray. Agora tudo aperta daqui, espreme dali, e é simplesmente IMPOSSÍVEL achar qualquer tipo de underwear que sirva realmente só pra usar por baixo da roupa.
Assombrada diante dos bojos imensos e fortificados, eu pergunto: "Mas todo mundo que vem aqui tem peitão?" Sem graça e sem alternativas, a vendedora explica que todo mundo só quer sutiã com bojo mesmo. "Desculpa aí qualquer coisa", ela diz constrangida, enquanto eu saía da loja. Ora, que é isso. Desculpa eu por não ter peitão.
