segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Viva el huevo frito!

Se as coisas por aqui na terrinha estão meio paradas (ou os blogueiros brazucas andam meio sem inspiração), a Espanha continua dominando o Ovo Frito como fonte inesgotável de bizarrice e alegria. Eu não resisti e pedi para uma amiga minha, a Ana Amélia, escrever uma história que ela me contou sobre a sua temporada além-mar. Ei-la!


Minha pátria, minha língua. Salva pela Bethânia!

Sabe, todo meio intelectual - meio de esquerda tem alguma desventura no velho mundo para contar. Eu, mesmo não sendo nem meio intelectual nem meio de esquerda (talvez um pouco, vai) também tenho. Inspirada nos relatos da correspondente do ovo frito na península, e incentivada pela mari marchesi, resolvi compartilhar com vocês uma dessas situações que entram para o rol de histórias bizarras repetidas muitas vezes à exaustão em uma mesa de bar, de um bar ruim, de preferência. São duas, e ambas estão relacionadas à diáspora brasileira pelo mundo e têm uma linha bastante tragicômica.

Vamos a ver, a primeira delas se passa em madrid, minha terra natal em alguma outra encarnação, seguramente. Lá a profusão de brasileiros vem aumentando vertiginosamente nos últimos anos, alcançando status de notícia até nos jornais gratuitos do metrô. Pois bem, cansada e enjoada do jamón ibérico e papas bravas aceitei o convite do meu namorado, britânico, para jantar num restaurante grego supostamente autêntico. O recinto fica localizado no bairro de malasaña, bastante conhecido por atrair toda a sorte de notívagos. Assim, chegamos. Era uma bela tarde de verão e fomos recepcionados por Eros. Eros, como não podia deixar de ser, estava vestido a caráter. Nosso deus grego nos recebeu com muita simpatia e nos levou à mesa. Estranhamos, afinal de contas os espanhóis não são muito conhecidos pela sua simpatia. Além disso, seu sotaque nos intrigou. Não era grego, não que soubéssemos muito bem como os gregos falam espanhol, mas percebemos certa familiaridade meio indecifrável. Escolhemos nossos pratos, tarefa difícil no meio de tantas boas opções. Eis que chega um momento que Eros anuncia que irá cantar uma canção para nos entreter a todos os comensais. Entreolhamos-nos, curiosos para ouvir uma canção grega típica. Nada mais lógico, afinal estávamos num restaurante grego típico. Resulta que, já nos primeiros acordes, antes do deus grego soltar a sua divina voz, reconheço a canção, mas pensei: não pode ser, já que não conheço músicas gregas. Intrigada, esperei apreensiva os segundos seguintes quando Eros solta maria bethânia. Tá, sei para o clima do relato seria melhor lembrar qual música da bethânia, mas confesso que o êxtase foi tal que não me recordo. A emoção era tamanha que causou constrangimento nos meus vizinhos de mesa. Meu namorado, britânico, repito, por não compartilhar do mesmo repertório, me olhava com estranheza. Ao final da apresentação, chamo Eros e lhe pergunto: de dónde eres? Eros, constrangido por tamanha indelicadeza retruca: de una isla griega llamada brasil. Ah, foi o auge! Pior que cantar maria bethânia em restaurante grego supostamente típico, Eros, visivelmente perturbado com a revelação da sua verdade identidade, me dá um sorriso amarelo ao saber que éramos conterrâneos...

A segunda foi há mais tempo. Indo visitar um amigo em paris, me deparo perdida e sem celular e sem cartão telefônico. Por uma peça daquelas, a estação de metrô em que deveria descer para encontrá-lo estava em reforma e ele, claro, esqueceu de me avisar. Assim, fui obrigada a descer na estação seguinte. Até ai, tudo bem, mas as instruções que eu tinha para chegar ao apartamento não mais correspondiam à minha realidade geográfica. Respiro fundo, vamos lá. Meu parco francês não me levaria muito longe. Arrisco no inglês, mas sou elegantemente ignorada pelos floristas, jornaleiros, donos de bares e afins. No ápice da tensão, apelo para os passantes. Todos muito apressados não me davam a menor pelota. Até que vejo saindo da estação do metrô uma senhora levando uma criança pela mão. Alvo fácil. Aproximo-me assertivamente. E, sem titubear, peço informação. Ela, em seguida, me pergunta: where are you from? Num primeiro, segundo pensei em inventar que era russa, sei lá, bobagem de brasileiro que acha que é sempre mal-tratado. Resolvi ser honesta e dizer, sou brasileira, por quê? Foi a minha sorte, a simpática senhora era portuguesa, com certeza. Não só me indicou a rua, como me emprestou seu portable para tentar localizar meu amigo fujão. Sem sucesso, caixa postal. À porta do prédio, dei-lhe um forte abraço, agradeci de todos os modos que podia, e entrei porque tinha o código do edifico. Na França eles fazem isso, inventam esses códigos secretos para entrar, mas tudo mundo sabe, inclusive eu. Isso ele lembrou de me avisar, mas esqueceu de dizer o número do apartamento. Entrei. Prédio sinistro. Escuro e com escada que range. Desorientada, me sento para esperar meu anfitrião dar o ar da graça. De repente, mais uma vez, ela chega: maria bethânia. Era um som distante, abafado, quase inaudível. Decido segui-la. Lentamente, vou subindo as escadas. Qualquer barulho poderá assustá-la. Chego a uma porta. O som parece vir de lá. Ai, o que fazer? Bato. Escuto passos, a porta se abre. Uma moça sorridente me diz: você é Ana? Atônita, respondo um sim mudo. Ela me abraça e diz, o JP me disse que você chegaria. Entra! Daqui a pouco ele está aqui. Quer um copo de água? É, Bethânia, te devo essa!

Ana Amélia A. Serra.

6 comentários:

Bernardo disse...

Bethânia é uma gracinha.

Coisinha linda de papai! =P

Bearantes disse...

Sorte sua q era a Betania! Eu já tive a sorte de ouvir um ivetão.

Alias, outro dia, no ESCRITÓRIO, onde sao puros catalães tava tocando SKANK numa rádio!!! (depois tocou um proibidao e eu fui rir no banheiro...) Coisas da rádio3

Ana Amèlia, vc mora em Madri?

Breno Soutto disse...

HUahhuha

Gênia!
Bethânia é gênia

Mariana Marchesi disse...

Bia, não se esqueça do netinho.

Anônimo disse...

Oi Bia. morei, durante um ano, de outubro de 2006 a outubro de 2007. Apesar de todas as espanholices, morro de saudades dessa terra. beijos.

Karen Sayuri Nagae disse...

Não conheco a pessoa que escreveu...mas ri demaaaaisss

beijos

karen