segunda-feira, 3 de março de 2008

Left at Albuquerque

Os azares e a lei de Murphy resolvem pegar no pé da gente justo naqueles dias em que tudo deve sair impecável. Até aí, isso não é novidade para ninguém, e sendo a índole humana naturalmente maligna*, todo mundo adora ver o amiguinho se estrepando. Por isso acho que minha última grande aventura no trânsito paulistano merece virar post aqui.

Tudo começou com um combo muito insalubre: eu me recobrava de uma imensa ressaca e tinha o dedão do pé esquerdo deflorado por uma manicure açougueira. Nessas condições é imprescindível que o sujeito tome uma aspirina e durma por catorze horas ininterruptas, não? Obviamente, não era o meu caso, pois eu teria uma entrevitsa de emprego agendada para as oito horas da madrugada em uma empresa localizada na Av. Berrini.

Conseqüência de toda a sabedoria que me é atribuída por amigos e parentes, fui dormir às três da manhã. Não obstante, segui a cartilha das entrevistas e acordei bem cedo, vesti a fantasia corporativa e saí de casa com uma hora de antecedêndia julgando que seria tempo suficiente para comparecer pontualmente à temida conferência. Ledo engano...

Meus infortúnios começaram logo que escolhi o itinerário ônibus-ônibus ao invés do ônibus-trem. Por causa do meu pobre dedão inflamado, imaginei que seria muito mais conveniente pegar um segundo ônibus e descer na cara do escritório ao invés de ir de trem e caminhar 500 metros mancando mais que carteira de escola pública. Ledo engano número dois. Para começar, o primeiro ônibus que eu deveria tomar atrasou, me deixando com dez minutos de defasagem na maratona do emprego. Até aí, tudo bem, julguei que um pequeno atraso não seria tão prejudicial. Além do mais, supõe-se que existam muitos ônibus que façam o trajeto Faria Lima-Berrini, não é mesmo? Suspiro...

Eu esperei. Esperei. Esperei um pouco mais. Já eram oito horas e nada de ônibus pra Berrini. Minhas entranhas ensaiavam um siricotico e eu me torturava mentalmente. Já estava em vias de desistir quando o ônibus desejado chegou. Pulei dentro dele já um pouco mais tranqüila e torci para que o motorista infringisse todas as normas de trânsito e me deixasse no escritório em dois minutos. Ah, vã esperança.

O trânsito livre, o ônibus em boa velocidade, tudo correndo perfeitamente e eu sentia que um feixe de luz dourada me banhava naquele momento glorioso. Mas então, no auge do meu êxtase, ouço aquela voz cheia de razão que arruina sonhos e desilude os poetas e as crianças. Essa voz era do cobrador e dizia "Vira à direita, Ceará! À direita!". O Ceará não virou. Assim como eu, Ceará era estreante naquela linha e tinha apenas uma vaga idéia do que estava fazendo. Errou o caminho e eu, feito uma pomba maluca, virava a cabeça para todos os lados, buscando a revolta no coração dos passageiros e uma linha alternativa que me levasse na velocidade do pensamento para o meu destino.

Resultado da empreitada: cheguei no lugar da entrevista às exatas 8:36 da manhã, suspirei fundo e tomei outro ônibus de volta para casa. Na minha mente, apenas a famosa frase do Pernalonga "Acho que eu deveria ter virado à esquera em Albuquerque".

*quem era mesmo que falava isso? Determinismo, darwinismo, xintoísmo... quem lembrar o nome da corrente de pensamento, me avisa aqui nos comments

Em tempo: a entrevista foi remarcada. Desta vez, consegui comparecer sem atraso algum.

9 comentários:

Bernardo disse...

"Assim como eu, Ceará era estreante naquela linha e tinha apenas uma vaga idéia do que estava fazendo."


rindo demais! ahahaha


ônibus em são paulo, definitivamente, NUNCA é a melhor opção. nunca, nunca, nunca!

por piores que sejam o trem e o metrô. neles, pelo menos, o modo lata-de-sardinha tem hora pra acabar...

Bearantes disse...

ui, mari!

os onibus de barçalona tao em greve essa semana, pq os motoristas querem dois dias de folga semanais... mas o metrox aqui é tao alegria que nem da pra sentir a tal da greve! lalala!

Breno Soutto disse...

ônibus sempre me gerou alegrias em São Paulo


Choro de rir

Pissardo disse...

adorei mari...
uma palavra dó...
Sua pergunta me lembrou locke que falava "homo lupus homo" - homem é o lobo do homem... ou seja homem come home. Foi a primeira proclamação a favor de gays ativos?

Breno Soutto disse...

Dos passivos também, por impossibilidade de acontecer de outra forma

Mariana Marchesi disse...

Sabe, em alguns dias entendo Maquiavel, Hobbes, Locke e toda a linhagem de putinhas do individualismo. Pra eles a sociedade é um mal-estar e a convivência entre os indivíduos é baseada no interesse, e portanto, naturalmente perigosa.

A propósito, ontem, no auge dos meus 45-minutos-esperando-no-ponto-de-ônibus, tive vontade de quebrar a marretadas aquele maldito painel eletrônico. Pra q serve aquela merda??

Incendiaria um João XXIII tb. Infelizmente eu não carrego comigo nem marretas nem coquetéis molotov.

Mas se eu fosse Hobbes, carregaria!

Bernardo disse...

João XXIII é o pesadelo da Rebouças.

Kim disse...

Aqui os buses sao de dois andares e amarelinhos. Creio que a prefeitura quis homenagear o Ovo Frito com Champagne.

hahahah

caio paganotti disse...

welcome to são paulo.

it sucks.

you're gonna love it!