segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Bus Session

Ao contrário do que parece, não tenho a intenção de discorrer sobre qualquer forma de transporte coletivo. O título serve apenas para ambientar esta pouco comentada figura do folclore urbano, à qual dedico estas provavelmente primeiras considerações. Não importa se no compulsório coletivo metropolitano ou se no falso conforto de um ônibus-leito; ele não está na boca do povo, mas todo mundo já o ouviu pelo menos uma vez - o sujeito assoviandinho. Repito: ouviu, porque ninguém jamais o viu. Por mais que se olhe freneticamente em todas as direções, ele nunca é identificado. Não está entre os passageiros, não é o cobrador e tampouco o motorista, mas é certo que está entre nós. Neste momento, escrevo em sua presença; e pela frequência dos meus contatos com a entidade posso descrever as suas aparições.

Ele chega num ônibus silencioso pegando-me desprevenida do meu mp3. Seu assovio débil é produzido pela passagem do ar entre a língua e os dentes, e não pelos lábios em forma de biquinho (sssss, e não fffff), e embora fraco alcança o ônibus de ponta a ponta. Sua melodia não se parece com nada conhecido, e às vezes nem parece uma melodia - ele improvisa, como um jazzista.

Ele é capaz de assoviar ininterruptamente durante todo o caminho, ou toda a viagem, o que me leva a crer que ele não é humano. Todos, sem excessão, fingem ignorar a sua presença, e o silêncio se intensifica. Talvez tremam por dentro certos de que se trata de um exu zombeteiro. Mas a verdade é que eu nunca vi ninguém mencionar ou comentar a presença do sujeito assoviandinho, ainda que o incômodo causado seja inegável.

Eu imagino o que aconteceria se eu de repente dissesse ao estranho ao lado: "Nossa, mas quem será que tá assoviando??" Me pergunto se eu causaria pânico geral, se uma fenda se abriria no espaço-tempo, se eu seria linchada pela multidão enfurecida ou se o exu me puniria amarrando a minha boca. Não quero desafiar o instinto coletivo e por isso corroboro com a espiral do silêncio. E finjo assistir com apatia a TV do ônibus.

Mas que fique registrado aqui o meu testemunho.

6 comentários:

Anônimo disse...

Gente, e agora com a TV do Bus. Eles colocam Scissor Sisters e muita banda alternativa pra ZL ouvir.Acho trabalho excelente.

Tipos, quer mais ovo frito com champagne que isso?

Tá cada vez mais difícil comentar aqui.Hoje tive que escrever

vdymykga

pra poder postar

È o sistema e o exu.

Kim

Breno Soutto disse...

Huahuhhuha


Acho errado culpar o Exu Zombeteiro!


Já andei de ônibus com a Mari e posso dizer: Não é ela não!

Mariana Siqueira disse...

Eu nunca ouvi o cara assobiandinho, Mari.

Mas já senti os sovacos azedos, se serve de consolo.

Lívia disse...

eu tava fazendo isso uma vez no supermercado, na fila do queijo e presunto. o velhinho na minha frente tava visivelmente invocado...

até que uma hora virou pra trás, criou coragem e perguntou: Você é ventríloca??

Mariana Marchesi disse...

HUAHUHAUHAUHAU! Já sei! A Lívia é o exu!

Mariana Marchesi disse...

Olha, eu tenho q dizer q ontem peguei ônibus de novo com o sujeito assoviandinho. E hoje tb. Acho q ele tá me perseguindo.